Por Leozito Coelho

14 de outubro de 2008

PISÃO

Saiba de uma coisa: o champanhe que a senhora delicadamente sorve neste exato momento é, tão-somente, o sumo da minha, da nossa desesperança, de modo que não adiantará mais à senhora despejar discursos hipócritas no lombo dos seus empregados, ou colaboradores, como a senhora gosta de chamar seus escravinhos, nem bafejar uma necessidade mentirosa por melhores resultados e, com isso, eu sei bem, promover cortes de orçamento, custo e folha, mas veja, não quero aborrecê-la com toda essa catilinária, afinal seus engravatados já estão vindo para me enxotar daqui, porém gostaria de lhe proporcionar, se me permite, uma última revelação da verdade - este pisão! - sim, isso mesmo, um pisão neste pezinho delicado, acomodado num tamanquinho que, acredito, vale mais do que o salário com que a senhora costumava me esmolar, pois é assim, com a dor estampada nessas suas faces cheias de tinta e cinismo, que a senhora poderá intuir sobre o dia-a-dia de quem é fodido como eu e que depende de gente como a senhora para seguir com a vida, ou não.

3 comentários:

jornalaico disse...

Gostei, contei: 1040 caracteres até o (único) ponto final. Dia sim, dia não. Retomou o pique hem?
Abraços.
Carlos

Keila Costa disse...

Sentindo falta dos seus contos de bela escrita, intrigantes...
Beijo e saudades!

Anônimo disse...

Isso Leozito, pisa mesmo, sem dó nem piedade. Pisa no mundo, na praça, no carro que quase te mata na rua. Pisa, pisa fundo, só olhe bem onde pisa e nunca, nunca mesmo, pisa em mim viu?
bj querido

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