Por Leozito Coelho

2 de outubro de 2008

MEU QUERIDO

Não largo, não largo, não largo. Essa panturrilha é minha, ninguém tasca. Tudo bem. Você quem sabe. Quer partir pra ignorância? Fique à vontade. Mas vou avisando: antes das suas bordoadas, arranco essa batatona com os dentes. Qual a graça, hein? Hoje se fala porrada. Mas ainda prefiro bordoada. Sei que é antigo. Quando era menininha, cheia de viço e esperança, o pai costumava perder o controle: chega de arte, olha a bordoada! Ele nunca me bateu. Nem você, querido. Mas se me deixar, vai ter mesmo coragem?, eu mordo e mastigo essa panturrilha. Inteirinha. Juro. Depois me mato. Não sei exatamente de que forma, mas eu me mato. Pulo da varanda, veneno de rato, corte da carótida, linha do trem. Ah, quer andar à força? Vai, tenta. Quero ver. Quero ver você me arrastando pelo elevador, pelo hall, pelas ruas. Já disse e repito: não largo, não largo. Esperei um amor na vida. Muito tempo. Agora que veio, não largo mais. Tudo bem. Se a batata não lhe faz falta, vá em frente. A escolha é sua. Eu já fiz a minha. Nela, você faz falta. Muita falta. Querido.

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