Eu e Tarzana namorávamos há um mês, quando ela me chamou para conhecer os Fole-fole. Eu ainda não me acostumara ao nome dela, que remetia à personagem criada por Burroughs no século passado. A primeira noite, por exemplo. Após transarmos, cochichei no ouvido dela, esbaforido: “Você está com a macaca!...” Mas foi uma brincadeira infeliz, ela desandou a chorar. A camareira do Motel Faisão Dourado trouxe um copo com água e açúcar para acalmá-la.
Aceitei o convite, ainda com remorso pelo episódio da ‘macaca’. Eu já havia lido reportagens sobre a seita Fole-fole, que pregava o orgasmo como saída incondicional para a salvação do planeta. Derreta de prazer era o slogan da doutrina, em alusão ao futuro degelo das calotas polares. Tarzana já fora a alguns eventos da seita, como a Jornada da Banana Amassada, o Põe que eu pulo e o Tirando o meu do Reto. Também participara do Trem dos Onze, que consistia no encaixe genital entre onze integrantes. A centopéia orgiástica locomovera-se vagarosamente, em meio a gemidos e desengates acidentais. Tarzana encabeçara a locomotiva, no papel do maquinista. Quando gozava, era obrigada a gritar “Piuíííí...” Ela me confidenciara essas experiências durante a viagem rumo à Ilha. Talvez quisesse me impressionar, ou provocar ciúmes, não sei.
Chegamos à Ilha dos Quatro Efes (iniciais de ‘Fole-Folistas-Fundo-Fodem’) no início da manhã. Havia uma faixa estendida entre dois arbustos, com os dizeres: 14ª Corrida do Sêmen Retido – A tradicional festa dos FF. Um rapazola de músculos untados, nu em pêlo, veio em nossa direção. Abraçou calorosamente Tarzana e a mim. “Veja como estou feliz em tê-los aqui!”, disse apontando para o pênis. O pederasta chamava-se Júbilo.
Assinamos um termo de responsabilidade, que deixava claro: em caso de morte, azar o nosso. Em seguida, Júbilo conduziu-nos às tendas de lona branca que ocupavam a praia. “Esta é a de vocês”, indicou. No interior da cabana havia cabides, cesto de frutas, um fole, um A4 com as regras da competição e um pequeno frasco, onde se lia ‘Óleo de Retardo’ na etiqueta. “Sopre-a direitinho, campeão. A desclassificação é vexatória”, avisou Júbilo com escárnio.
Li atentamente o folheto explicativo. Eu estava numa enrascada. Insinuei a Tarzana uma desistência conjunta, mas ela declinou. “Se não quiser, vou com outro”, disparou. Era cedo dizer que eu a amava, mas obviamente não gostaria de vê-la trepada no colo de um fole-folista besuntado. Tarzana era minha, ora. Fui para o jogo.
Saímos pelados da tenda. Eu já havia injetado a substância esverdeada dentro do fole, através de um canal retrátil. Restava a pergunta: Trinta mililitros do óleo bastariam para retardar a ejaculação? De qualquer forma, selecionei mentalmente imagens de atrizes pelancudas, que me ajudariam a ‘reter o sêmen’, como diziam os fole-folistas. A regra 19 assombrava-me o espírito.
Uns trinta casais conversavam próximo ao ponto da largada. A pista de três quilômetros alongava-se pela areia menos fofa da praia. Os fole-folistas eram jovens e saudáveis, tinham corpos malhados e ostentavam rostos de uma beleza áurea. Eles falavam ininterruptamente sobre sexo. “O planeta respira aliviado a cada gozo. Por que poluir se podemos foder?”, discursou uma pseudo-ruiva com um crocodilo tatuado na virilha.
Quando a sirene tocou, as mulheres deitaram-se com as pernas arreganhadas. Elas gritavam em coro: “Sopra! Sopra! Sopra!...” Tarzana olhava-me com fúria, enlouquecida de desejo. Agachei-me, introduzi o bico do mini-fole em sua abertura vaginal e iniciei a aspersão interna do óleo. À medida que eu pressionava as abas do utensílio, ela tremia a virilha, mordia os beiços e entoava “Sopra!, Sopra!, Sopra!...” A cena era bizarra, mas excitante.
Outro toque de sirene. Levantei Tarzana pelas nádegas, trouxe-a para mim. Ela entrelaçou as pernas no meu quadril e eu a penetrei gostosamente. Depois subiu e desceu três vezes, lubrificando-me o pau com óleo de retardo. Os movimentos dela eram tão perfeitos... Concentrei-me imediatamente na figura da Dercy Gonçalves. Tudo menos a regra 19.
Os casais aguardavam o último sinal. Oito homens nus, com pênis colossais e eretos, perfilavam-se paralelamente à pista. Batedores, concluí. Então, um gemido eletrônico estourou nos alto-falantes, “óóóhhh...”, e todos correram em disparada. Os fole-folistas iam velozes com as mulheres ao colo. Sincronizavam harmonicamente o movimento das pernas e do quadril ao sobe e desce das parceiras. Eu me esforçava para permanecer engatado. Pressionava Tarzana contra o corpo, mantendo todo o pênis dentro dela. Dessa forma havia menor esfregação dos genitais, o que favorecia a ‘retenção’.
A estratégia funcionara nos quinhentos metros iniciais. Mas os músculos fraquejaram e fui obrigado a relaxar os braços. Tarzana viu-se desimpedida. Passou a cavalgar violentamente sobre a rola. Era experiente, a filha-da-puta. Com aquela euforia sexual, um entra-e-sai frenético (quase encapetado), logo fui acometido por formigamentos nas panturrilhas. “O óleo não está funcionando, estou tendo um prazer incrível”, sussurrei-lhe ao completar o primeiro quilômetro. Tarzana gritou: “Retenha!” Em desespero, cerrei as pálpebras e recorri às atrizes. Imaginei Glória Menezes, Regina Duarte e Suzana Vieira inteiramente nuas, sorvendo chás de erva-doce com os seios amparados pela mesa. Não adiantou. “Minhas pernas estão bambas, oh céus...”, gemi sofregamente. Ela, enfática: “Retenha!” Corri apenas mais alguns metros, quando uma deliciosa comoção invadiu-me o corpo. Desabei na areia junto a Tarzana, esguichando profusamente em todas as direções. Eu estava exaurido, em êxtase narcótico.
Os alto-falantes anunciaram solenemente: “Batedooor!” Um dos peladões bem-dotados surgiu para aplicar-nos a regra 19. Ele ergueu Tarzana com facilidade, encaixou-a no pênis e saiu correndo pista afora. Não tive forças nem vontade de impedi-lo. Eu estava inebriado, aquele fora o gozo de uma vida. A cena das atrizes nuas voltara à mente, causando-me gargalhadas histéricas. E convenhamos: Tarzana!? Quem merecia tal fardo? Então eu seria ‘Chitão’, o macaco da Tarzana!? Ora...
Na cerimônia de premiação, recebi o Diploma da Mulher Batida sob vaias – uma tradição da festa. Mas não fora o único; dois fole-folistas também ejacularam antes da chegada. Júbilo, o pederasta, vencera a prova. Completara o percurso com o sêmen retido e o expelira perante o júri encarregado de analisar o jato segundo critérios pré-estabelecidos de consistência, volume, opacidade, alcance, calibre e sabor. Tarzana, por sua vez, optara por ficar com o ‘maior’ homem.
Júbilo era o tesoureiro da seita Fole-fole. Paguei-lhe o valor da experiência e me despedi secamente. “Não fique assim, rapaz. O óleo é um placebo, água com corante”, revelou. Dei de ombros e fui embora, ignorando-o firmemente. Sentia-me contente, aliviado. E também orgulhoso pela contribuição dada ao planeta.
Por Leozito Coelho
23 de julho de 2007
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2 comentários:
Dizem que a prática solitária faz crescer. Parece ser o seu caso, os contos eróticos estão cada vez mais avantajados. Os jogos de palavras continuam fazendo rir. A propósito, veja o que encontrei sobre E. R. Burroughs:
Edgar Rice Burroughs nasceu no ano de 1875 em Chicago, nos EUA. O criador de Tarzan dos Macacos, foi jornalista antes de se tornar escritor. Ao morrer, em 1950, Burroughs foi enterrado numa pequena cidade do estado da Califórnia chamada Tarzana.
Abraço.
Carlos
esse conto é muito maluco... que imaginação hein Maluco?!
Mas me fez rir... hahaha
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