Ínfimo diálogo entre Benício e Ju

Benício: Posso pedir um favor?
Ju: Se não tomar tempo e dinheiro...
Benício: É coisa simples. Se for me deixar, poderia me avisar com antecedência?
Ju: Quantos dias?
Benício: Umas duas semanas. Se possível, um mês.
Ju: Como um aviso prévio...
Benício: Isso, mas não encare como obrigação burocrática e sim como favor.
Ju: Claro, claro. Mas por quê?
Benício: Porque teria mais tempo para ajeitar as finanças e encontrar um bom psicólogo.
Ju: Se terminarmos, vai ficar meio ‘pancada’?
Benício: Talvez. Difícil prever.
Ju: Gosta muito de mim?
Benício: ‘Muito’ não é bem a palavra. A mais apropriada, acredito, é ‘intensamente’. Gosto intensamente de você. Pronto.
Ju: Não é a mesma coisa?
Benício: ‘Muito’ indica quantidade. ‘Intensamente’ remete a uma forma de gostar, é qualitativo.
Ju: Mais teorizações enfadonhas...
Benício: Havia diversos homens dançando naquela boate, requebrando os traseiros. Deu azar em escolher logo um intelectual...
Ju: Uma lástima, realmente. Havia um negro muito gostoso, intensamente gostoso se preferir, com uma calça apertada que expunha seus volumes. Só de pensar...
Benício: Estou tendo tremores.
Ju: Nervoso?
Benício: Quando você fala de outros homens, fico meio esquisito, com taquicardia e pernas bambas. Melhor procurar um psicólogo já.
Ju: Acalme-se, fofinho...
Benício: Tenho medo de não encontrar outra pessoa como você, Juju. Sei que vai me largar por um rapaz mais interessante, é assim que acontece. Você sabe disso, não disfarce.
Ju: Você declama Drummond, pinta, escreve, cozinha, mete que é uma beleza, conserta os aparelhos eletrodomésticos e é dono de uma elegância particular, estilo bofe da boemia. Não se acha alguém assim na primeira esquina.
Benício: Que bom ouvir isso...
Ju: E tem mais. Eu te amo, lindo. Muito, muito.
Benício: Também te amo, Julio. Intensamente.