Analice informou-me da sua habilidade em manusear bolas chinesas logo após o garçom nos servir as almôndegas recheadas. “É uma terapia que nasceu na Dinastia Ming e passou por adaptações estéticas e funcionais ao longo dos anos, como a pintura da superfície com cores fortes e a introdução de plaquetas musicais no interior das esferas”, explicou. Mas, naquele momento, eu só conseguia pensar em Analice rodopiando meus testículos na palma da mão, no que era o mais belo dos devaneios.
“As bolas têm contribuído para melhorar sua vida pessoal?”, perguntei. Era uma questão óbvia, cuja resposta indicaria o tipo de aproximação a ser utilizada: se mais intimista (caso ela risse ou fizesse brincadeiras sobre o assunto) ou mais respeitosa (se ela sublimasse o duplo sentido de ‘bolas’). Ela disse que o procedimento terapêutico com esferas chinesas diminuiu-lhe a ansiedade e a fez tolerar a passagem do tempo. Analice respondeu de maneira efusiva, quase radiante, como se precisasse demonstrar os benefícios que as bolas traziam para sua existência. As frases dela, recebidas e condensadas em minha mente, convergiam para um único pensamento: não vai me dar.
A conversa acabou enveredando em discussões inócuas sobre o desenvolvimento chinês em comparação à estagnação ocidental. Em determinado momento, temi que ela creditasse o esplendor econômico daquele país à eficiência das bolas chinesas. Já era meia-noite, eu apresentava sinais de embriaguez e demonstrava certo enfado. Acabei pedindo a conta. Ela chamou o táxi pelo celular.
O veículo chegou e sentamos no banco traseiro. Olhávamos para frente, em total silêncio. A monotonia seria insuportável se não houvesse as intervenções da telefonista da central de rádio-táxi. Analice retirou um frasco de óleo da bolsa. Começou a esfregar o líquido nas mãos. “Estão ressecadas?”, perguntei. Mas ela não disse nada. Apenas cruzou o indicador nos lábios, fazendo o sinal para que eu calasse a boca. Ela abriu a braguilha da minha calça, enfiou a mão e pôs-se a brincar com as bolas, massageando-as vagarosamente em círculos horários. Depois, encostou a cabeça no meu ombro esquerdo e cochichou: “Você é muito peludo, não consigo apreender o formato exato dos seus testículos”. São ovais, sussurrei com dificuldade, quase sem força. Ela foi aumentando a velocidade do movimento até seu braço estar inteiramente retesado. Abri a janela e gemi até o gozo, gritando sons ininteligíveis aos motoristas que passavam ao lado.
Analice limpou os dedos com um lenço. Ela me convidou para subir. “Queria te mostrar uma terapia tailandesa de relaxamento, que consiste em amassar toras de bambu com movimentos contrários entre as mãos, tipo vai-e-vem. Já viu alguém enrolar um quibe? Pois então, é parecida.” Não pude negar o convite, embora as pernas ainda estivessem trêmulas. Paguei o taxista.
No elevador, permanecemos em silêncio. Eu mantinha os olhos fechados, na tentativa de recobrar as energias. Quando, de repente, ouvi o som de um fecho ecler sendo descerrado com vagar e doçura.
Por Leozito Coelho
25 de junho de 2007
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4 comentários:
E ai Leo!
Depois de casado passou a escrever sobre o erotismo? hehehhe Abraçao,
Otavio
Como sempre: ótimo, mas este em particular me remete ao Léo q conheço e amo de paixão por seu humor inteligente, sacártico. Q bom vê-lo de volta!
bj
Finíssima a pena desse conto, Leo. Estás depurando a escrita, meu Rei, muito bem trabalhado esse texto...
Axé!
Lobo
Ainda estou enlevada com o efeito deste e não sei ao certo o que dizer, qual adjetivo usar. O erotismo é um campo que já prende a atenção, e você, com a sua criatividade e fina escrita, se introduziu com maestria. Parabéns! Bjos.
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