- Psiu..., garota...
- Oi! Perdão... O senhor está falando comigo?
- Sim, sim. Estava passando e resolvi depositar umas moedinhas.
- Desculpa. Não entendi.
- Aqui, toma. Um real em moedas.
- Não quero, obrigada. Posso voltar ao meu livro?
- Claro, claro, mas fique com as moedas. Eu insisto.
- Por que quer me dar isso?
- É assim que funciona. Nunca quebrou um porquinho?
- Com todo respeito, não está dizendo coisa com coisa.
- O cara é maó pancada, véio!... Não gosta de falar assim? Véio, qualé, caô, brou... Os jovens adoram esses termos, mas você, que é moça e bonita, com seus quase vinte anos, ainda não disse nada parecido. Acho estranho.
- Com quem aprendeu isso?
- Meu neto Tobias, de doze anos. Está no auge da crise, sacô?
- Pelo visto, aprende muito com ele.
- Só!
- Senhor, esse linguajar não faz parte do meu vocabulário. E para terminar a conversa, gostaria de agradecê-lo pelos “quase vinte”. Na verdade, estou mais para “quase trinta”. Sinal de que estou bem conservada, né?...
- Eu disse “quase vinte” por causa das suas acnes, você sabe, os jovens têm –
- Chega! Por favor! Ou o senhor se retira daqui ou me levanto e vou embora.
- Já estou de saída. As moedas, aqui...
- Não quero! Vou repetir quantas vezes?
- É pra pôr no seu cofrinho...
- Ahn!?... O que disse!?...
- O pedaço de bunda que fica fora da calça, não é o cofrinho? Pelo menos é o que o Tobias –
- Sem vergonha! A idade o fez esquecer do respeito?
- Eu estava passando e apenas quis contribuir...
- Não tem nada melhor pra fazer do que bisbilhotar o rabo dos outros?
- Tenho sim.
- Então pode ir, xô, xô... Vá fazer essa outra coisa de que tanto gosta e dê um descanso para mim.
- Que papo irado, hein!
- Aprendeu com o idiota do seu neto? Parabéns.
- Sabe a tal “coisa” de que mais gosto? É justamente conversar com ele.
- Pois dê meus pêsames a ele e à mãe dele. O senhor conseguiu. Passar bem...
- Não vá embora...
- Já fui. (Dá-lhe as costas e segue pela calçada)
- E as moedas, enfio onde?
- Enfia no seu cu!... (Diz sem interromper o passo, nem virar o rosto)
- Mas como, se não tenho cofrinho?
Por Leozito Coelho
15 de junho de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário