Por Leozito Coelho

20 de setembro de 2006

Alívio

O relógio apitou meia-noite, e ele sentindo as gengivas, os dentes, a língua e os beiços recobertos de uma película espessa, e o que comera ao longo do mês voltava-lhe à memória ao menor movimento dentro da boca, e toda aquela situação lhe causando repúdia, já sem coragem de falar o que quer fosse a alguém, mesmo não havendo ninguém ali para conversar, e a situação tornava-se insuportável a cada passo do ponteiro, como se os restos fermentassem mais rápido a cada instante, e assim acabou rendendo-se aos produtos com os quais havia rompido, contrariando a ideologia da qual tornara-se adepto, e quando sentiu o gosto da hortelã a inundar-lhe o paladar e também as cerdas da escova a limpar-lhe as gretas imundas, sussurrou vomitando bolas de espuma na pia: Ah, que alívio refrescante...

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