Por Leozito Coelho

29 de maio de 2006

Brincadeira, meu amor

Ela estava encolhida entre o criado-mudo e a parede. Segurava as pernas com os braços, a testa amparada nos joelhos. Eu ouvia seus soluços abafados... E sabia bem o porquê. Trouxe-lhe um copo d'água e açúcar, bebe, vai te fazer bem. Mas ignorou-me, nem mesmo levantou a cabeça. Sentei à cama e fiquei observando-a ali parada amuada tristonha calada. Diabos, como fomos desembocar naquela situação? Tomei fôlego, arrisquei: Não era o que você mais queria, amor? Como resposta obtive um urro lancinante, seguido de soluços pouco espaçados, intensamente sofridos. Fui ao cômodo dos pais. Continuavam imóveis, perecendo sobre o lençol bicolor, amarelo e vermelho. O machado e o cutelo permaneciam na mesma posição. A pistola, embaixo da cama. Voltei para o quarto dela e, em tom de afobação, disse-lhe o seguinte: Seu pai ergueu o braço, assim, de repente! Ela estancou o choro e fitou-me os olhos arregalados. Não é possível, falou levantando-se apressada. Já ia pelo corredor quando parou subitamente e virou-se para trás. Cravou-me um denso olhar, restando-me apenas a confissão evidente: É brincadeira, meu amor.

Um comentário:

thgmx disse...

ah, agora entendi a ausência, esses ultimos dias...

estava bem ocupado...

:)

to de blog tb.
abraço,
t

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