Por Leozito Coelho

29 de março de 2006

Serviços prestados

Raspei a cabeça dela com gilete. Meti a cabelada numa sacola do carrefour e marquei o encontro com Sérgio. Cumprimentei-o antes de sentar. Abri a mochila, tem vinte oito sacolas aí dentro, dez quilos no total. Texturas e cores diferentes, como você pediu. Sérgio enfiou a mão numa delas, puxou um chumaço ruivo, liso, o de Paola. Repetiu o gesto: crespo e negro, Soraia. Louro e cacheado, Luma. Qual é mesmo o nome da obra? Sérgio estava indeciso entre La femme contemporaine e Mon épouse dans la salle de bains. Ia expô-la em Paris, ainda este ano. Pegou a mochila e sorriu para mim. Precisa de algo mais? Ele queria vinte litros de esperma. Vou despejá-los em garrafas de Coca-Cola, aquelas de trezentos mililitros, já pensei até no nome, La modernité. Tirei do bolso a fatura do serviço dos cabelos. Ele passou-me o cheque. Apertei-lhe a mão, boa sorte Sérgio. Obrigado, ele disse, e cuidado para não se matar, é muito esperma. Respondi que tinha muitos primos adolescentes, que não se preocupasse. Tudo pela arte, tudo mesmo!, brincou, despedindo-se com um aceno solto no ar.

Um comentário:

joão alguém disse...

Faz um convênio com a puta aí de baixo. Ela recolhe os sêmens e guarda em recipientes com os respectivos nomes. Nome da exposição: L´Amour

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