Por Leozito Coelho

25 de março de 2006

Puta

Passo as noites com cafajestes, eles pagam o suficiente para me utilizar de todas maneiras possíveis, exploram cada quina, cada brecha, descarregam em mim a falência de seus casamentos e de suas mulheres que, não adianta, serão sempre as mesmas. Alguns expõem seus problemas enquanto dirigem minhas curvas, houve ocasião em que o cliente pagou-me um acréscimo para beijá-lo, e eu o beijei de língua, até babei no queixo dele, e depois ele chorou e agradeceu, eu tinha reavivado um troço nele, não lembro bem o quê. Muitos deles me agradam, passaria o resto dos meus dias cuidando de nossas crias, deixaria a vida... Mas puta que é puta deve vigiar o sentimento, também temos a fantasia do príncipe encantado, só não possuímos a nobreza do cargo, e é por isso que adotamos a postura rígida e pétrea da indiferença, que é para não ferir demais. Ainda assim, já deixei carro chorando (sem que ele percebesse), já acordei com saudade, já escrevi poema de amor, já gozei de verdade.

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