A risada

A Companhia funcionava em um só andar. Havia diversos ambientes, todos com ar-condicionado. O silêncio reinaria, não fossem os toques no teclado. Era um lugar de poucas relações. Na minha sala, eu consultava e-mails. Um amigo tinha enviado uma piada de futebol, bem previsível, e até agora não sei explicar risada tão espalhafatosa. Saiu limpa, vibrante, e logo escapou por debaixo da porta. Corri atrás dela pelo corredor, tentando contê-la em uma sacola do Carrefour. Mas ela seguia veloz, despertando colegas de escritório, que pulavam de suas cadeiras e exclamavam ó, mas que fim! Encurralei-a somente no banheiro, após ela ter quase enfartado o gerente de Marketing que relaxava na cabine sanitária. Ensaquei-a rápido e saí dali. Mas cruzei com o diretor-presidente, por azar, acaso ou destino. Posso saber, ele perguntou, que diabos faz com esta sacola em pleno ambiente de trabalho? Eu disse que era uma longa história, que eu tinha muito serviço, o senhor me dá licença? Mas ele me encarou e, seco, ordenou: abre! Tem certeza doutor?, é melhor não, mas o homem repetiu enfático: abre! Então fechei os olhos e desamarrei as abas da sacola. A risada explodiu no teto. O chefe pôs as mãos na orelha e fez uma careta horripilante: rosto enrugado, olhos vesgos, língua metade para fora. Àquela altura, eu já tinha soltado outras tantas risadas, ainda mais escandalosas, que infestaram o escritório e suas rotinas. No dia seguinte, o diretor contratou uma consultoria e me transferiu para outra área da Companhia. Fui para a Comunicação.