O encontro

Se a visse, me apaixonaria. Diziam-me do seu encanto, do sorriso que iluminava almas pétreas, da conversa inteligente que mantinha por horas a fio. Quando entrou na sala de aula, pressenti logo o pior. Não se terminaria bem aquela história. Eu mirava apenas o chão. As pernas bambeavam, as vistas escureciam, ia breve desfalecer. Ela então reparou-me pálido, apontou-me, você de vermelho, está passando bem? Fiquei em silêncio. Ela insistiu, mas continuei calado. Um colega sussurrou rapaz, não seja rude, responda a professora. Então ela veio em minha direção. Toc, toc, toc. Ficou ao meu lado, de pé, vendo-me lá do alto. Perdeu a língua por acaso? Eu disse baixinho que ela estava no mesmo lugar de sempre. Ela se agachou, buscou-me os olhos, a completude do rosto, e acabou por achá-los. Ficou ali, atônita. Quem diria..., ela soprou. Pediu que eu falasse qualquer coisa. Não importava o burburinho dos colegas, que dissesse uma palavra ao menos. Encarei os olhos dela, os mesmos glóbulos castanhos, visitei a franja ainda repicada, os lábios abundantes, a pele alva, e desatei o nó da garganta dizendo-lhe francamente: agora é tarde.