Por Leozito Coelho
6 de dezembro de 2004
Se homens escrevessem diários
Eu percebia o batom espalhado ao redor de sua boca, e a respiração extasiada indo e vindo, e os seus olhos negros mirando-me pertinência, e os dentes aparecendo aos poucos, descobrindo-se, despindo-se, no sorriso largo de puro encantamento, e eu sentia a pressão apaixonada contra o meu ventre, um tremor conjunto de corpos, e tudo isso prenunciava o final de uma era de ansiedade, de vontades, de mulheres ideais, de prazeres ditos e nunca realizados, e eu lhe propunha agora mesmo, ao pé do ouvido, uma loucura adolescente na varanda mal iluminada, e eu sabia que ela queria o que eu queria, faltando apenas a formalidade do convite indecente, e eu alcançava agora os mamilos!, os mamilos!, e o beijo curto, e a esfregação frenética, e o calor louco nos colando, e de repente um farol iluminando tudo e um gesto bruto arrebentando-lhe o sutiã e um grito de furia ordenando o fim da pouca-vergonhice e um amor chorando e correndo para dentro e um homem grisalho dizendo-me para ganhar a rua e uma senhora séria concordando gravemente e uma porta fechando num barulho estrondoso e um errante caminhando à procura de porquês e um garoto voltando no ônibus vazio pensando na tarefa solitária que o aguarda.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário