Por Leozito Coelho

7 de dezembro de 2004

Revide

Uma multidão à espera da minha vingança, prazeirosamente sem saber. As lembranças de dez anos guardadas aqui dentro como jóias de terror. Inocentes acreditando numa recuperação impossível, ridícula na sua pretensão. E eu levando nos punhos a morte, o soco que afunda crânios como se fossem ovos, as mãos que torcem pescoços como se fossem balões, podendo ali continuar até a separação definitiva entre cabeça e tronco. E a força extrema solta na cidade, pronta para o troco, e a cerveja me enchendo de pensamentos ainda mais tenebrosos, mesmo sórdidos, e eu deixo as moedas na mesa de lata e saio pelas ruas fingindo uma demência que não existe. E na esquina esbarro propositalmente no engravatado de filhos, esposa, futuro e posses, e ele vira-se, olha-se, olha-me, e volta-se à espera do sinal verde. Não dá o gatilho para a ação. E vou saindo à procura de outra vítima quando o ouço resmungar vagabundo. Vagabundo! Fico vermelho por dentro, as mãos pesando chumbo, as arcadas se apertando, tremores incríveis! E ele de costas, atravessando a rua. E eu vou correndo em sua direção com o Negro Pai atrás de mim na primeira noite, e o guarda torturador, e a comida pestilenta, e as cicatrizes das facadas vacilantes, e os grunhidos das ratazanas, e a prisão fedorenta e repleta de pessoas enganadas pelo que alguns chamam vida. E agarro-lhe a nuca, espremo-a como laranja podre, e vejo o farol aceso do automóvel. Talvez o encaixe perfeito.

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