Por Leozito Coelho

9 de dezembro de 2004

Pitonho, o mágico

Mostrou a cartola: o coelho tinha sumido. Crianças e adultos bateram palmas, assoviaram e gritaram elogios. Ele então passou para a mágica seguinte. Ouvia-se um burburinho na platéia diminuta. O pai da aniversariante brincou: "Acho que virou casaco..." Pitonho continuava seus preparativos, alheio às discussões dos mais velhos. Até que a mãe da menina disse-lhe baixinho: "Faz ele voltar. O coelho." Mas Pitonho respondeu ser tarde demais, o animal tinha mesmo sumido. Era sua especialidade, o desaparecimento. Então três amigos do pai levaram o mágico para o quarto do casal e avisaram às crianças que o espetáculo continuava já, já, no mesmo instante em que uma garotinha de xadrez perguntava cadê o cuelo? Cercado por quatro marmanjos e uma dona, Pitonho limitava-se a explicar que era mágico e por isso o coelho não estava mais lá. Obrigaram-no a esvaziar os bolsos, a abrir uma sacola de supermercado e a tirar os sapatos. O advogado amigo da familia dizia indignado: "Isso não tem nada de correto. Te enquadro, rapaz!" O veterinário que cuidava da Marieta, cadelinha do casal, esbravejava: "Eles dão cachaça pros animais. Um absurdo!" Pitonho, acuado, pediu licença para esvaziar a bexiga no banheiro do quarto, deixando os adultos a confabular sobre o seu futuro e o do coelho também. As crianças começaram a fazer uma algazarra infernal na sala, esgoelando em coro: "Pitonho! Pitonho!" O pai, a mãe e os amigos decidiram que o melhor era terminar logo o show, depois resolvia-se a problemática toda. Bateram na porta. "Estamos te esperando, rapaz!" Não houve resposta. Então abriram-na, nervosos, e viram o suficiente para concluir que Pitonho, o mágico, tinha sumido também.

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