Por Leozito Coelho

25 de abril de 2008

CONTO MOFADO

Chove desde a manhã em que nasci. A mãe conta que antigamente as pessoas gostavam do barulhinho da chuva, pois fazia dormir que nem pedra. Não tive o privilégio. O som dos pingos é tão indiferente quanto o ar que respiro. O mofo dos armários e a umidade das roupas também não me incomodam, sempre estiveram aí. Os mais velhos desenterram histórias, dizem que os alimentos duravam mais quando havia estiagem. A fome já existia na época, mas não com tanta fome. Eles, os saudosos, não entendem como foi possível chegar a tal ponto - o odor, a epiderme esverdeada, as doenças pulmonares, as submersões das cidades. E sequer compreendem quando explico que o que chamam de decadência é para mim apenas o sopro da vida.

3 comentários:

Anônimo disse...

seja muito bem-vindo à literatura fantástica!!!!
adorei.

Anônimo disse...

Leozito,
amei, adorei!
Q bom q voltastes de vez...
bj

Or y Undo disse...

Meu caro, vcs contistas são uma confraria de loucos.

Por mim, tudo bem.

Eu te venderia um enteógeno, se tivesse. (e vc saberia o que é enteógeno, se lesse o /Sem Cohmando -- nome novo, atualize)

A vida é outra.

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