O velhinho tira a lista do bolso e lê as informações remetidas pela Central Natalina de Credenciamento. São três meninas, sendo duas crianças – Mariana e Mônica – e uma adolescente – Melina. As renas já estão estacionadas no telhado. Ele joga o saco de presentes pela chaminé e desce logo em seguida.
A porta range. Seu coração dispara. Malditas dobradiças, pensa ele. Na cama da direita dorme Mariana, cuja foto está impressa no papel que ele carrega consigo. Nele também está anotada a idade da criança, seis anos, e o presente que irá receber – uma boneca que faz cocô e se limpa automaticamente. Noel deposita o embrulho ao pé da cama. Logo à esquerda está Mônica, nove aninhos, que repousa em posição fetal. O velho põe o estojo de maquiagem, já embalado em papel celofane, no criado-mudo ao lado da cama. Ele beija o cocuruto da menina, que resmunga sons ininteligíveis e vira-se. Noel sai do cômodo.
Agora é a vez de Melina. Ela tem 17 anos – idade limite estipulada pela Central. No próximo Natal, não contará mais com as dádivas do bom velhinho. A jovem está dormindo pesadamente, sozinha em seu quarto. Fotos de celebridades masculinas inundam as paredes. Há revistas de fofoca amontoadas no carpete.
Um lençol azulado cobre Melina até a barriga. Ela veste uma camisola de seda, cujas alcinhas pendem sobre os seios fartos. Ao ver a cena, o ‘barba branca’ arregala os olhos. Ele sacode a cabeça, como se quisesse espantar os pensamentos, e volta-se para a lista, onde lê: “Melina, 17, lingerie vermelha – aprovado; estimulador sexual a pilha, 20 cm, acrílico, translúcido – reprovado”. Noel procura o embrulho no saco, localiza-o pelo código e o deposita ao pé da cama. Ele foca outra vez nos peitos dela; um mamilo escapulira. Suas faces ruborizam: que deleite! Ele não contém a curiosidade. Levanta cuidadosamente o lençol, debaixo do qual vislumbra, assoberbado, a nudez gostosa da garota. Noel solta um rugido abafado, seguido de um suspiro. “Vai ficar irresistível quando vestir aquela lingerie”, pensa ele. Talvez deseje tocá-la, afinal trata-se de uma despedida, mas ele decide ir embora antes que cometa uma loucura.
No caminho até a lareira, o velhinho pára no banheiro, onde joga água no rosto. Pelo espelho, observa o volume sob a calça vermelha de veludo. E admite: Papai Noel fora presenteado.
Por Leozito Coelho
20 de dezembro de 2007
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2 comentários:
Caro Noelzito, espero vc (e esposa) na nossa reunião de Natal. Vamos fazer algumas brincadeiras. Vc pode ler este conto. Hahahaha.
Abraço.
Calbercan
O empaudurescimento em questão talvez indique que nem mesmo Noel acredite mais em si mesmo.
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