Por Leozito Coelho
6 de junho de 2006
Enfim...
Enquanto as balas penetravam-me o corpo, eu concluía, não sem pesar, que o senhor de sobretudo preto e óculos escuros que, dia e noite, ancorava-se à porta do meu edifício com um cigarro de palha no canto da boca, como se não pertencesse à calçada suja e esburacada, como se fosse um ente invisível, enfim como se não existisse, pois aquele senhor confirmara minhas intuições mais pessimistas quando, ao esconder-se atrás do portão da garagem, esperou que eu descesse do carro para fuzilar-me com toda frieza e astúcia dos profissionais, e neste momento em que o vejo à minha frente, apontando-me o cano da pistola para o disparo fatal, com sua face dura, impenetrável e com um quê de inanimado, tenho a sensação de poder morrer antes de ser atingido pelo projétil e, francamente, tal situação não era bem o que havia previsto para o fim dos meus dias, mas enfim...
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4 comentários:
Leo,
To sentindo que voce esta influenciado pela violencia urbana, mas seus contos nao sao frios e banais como noticiarios de TV - a "humanizacao" da violencia em seus textos chega a transmitir serenidade - sensacional!!!
Li e fiquei com a sensação que queres passar uma mensagem... mas desculpa-me a sinceridade e a minha ignorância... mas não te consegui alcançar.
Muito tempo sem retribuir a visita. Interessante ver que está se aventurando por novos estilos.
Quanto ao texto, as vírgulas concederam um ritmo sufocante ao conto. Um cotidiano apressado encontrando a violência e sendo interrompido, de forma brusca.
O texto acaba assim, sem mais nem menos, "como assim, acabou?" Acho que foi isso que provocou o comentário da Ana. Mas entendi também que a idéia de uma morte tão estúpida é essa. De repente, no meio de tanta pressa, simplesmente acaba, sem explicações plausíveis.
Bom, não sei se foi essa a intenção, mas eu gostei.
ah, sim, se voltar aqui, um abraço pro Kaukal!
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