Por Leozito Coelho

28 de janeiro de 2006

Página 285

De manhã, conjugo o verbo "polir" quatro vezes consecutivas. Pulo, pules, pule, polimos, polis, pulem. Depois sigo para a rua. Eu pulo carros como ganha-pão. Digo assim, "pulo", porque ganhei a gramática de um cliente. Ele a abriu na página 285 e disse: leia aqui, não é eu pólo o carro e sim eu pulo o carro, viu? Eu retruquei doutô, que língua doida, o "pulo" de "polir" poderia muito bem ser o "pulo" de "pular"? Como o cliente sabe se eu quero polir ou pular o carro dele? Ele respondeu que eu tinha cara de lavador, e dos bons, e que saltar veículos era coisa de aventureiro de motocicleta. Entregou-me a gramática, disse que era de presente, e me deu as chaves para que eu... só um minuto, deixa eu pegar o livro aqui. Página 285... Ah, sim, me deu as chaves para que eu polisse o carro dele. Polisse, polisses, polisse, políssemos, polísseis, polissem. Consulto somente esta página, a 285. O resto eu pulo.

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