Por Leozito Coelho
3 de outubro de 2005
Quero gozar lendo a Coleção Vagalume
Tenho amigos e amigas, e tios e tias, e primos e primas, e pai e mãe e irmãos que, juntos e às vezes em coro, me recriminam o gosto pelos reality show, os filmes de ação e de comédia americanos, as séries de gargalhadas eletrônicas, os livros sobre Potter, Frodo e outras fantasias parecidas. Não vem de hoje. Quando criança me trancaram num quarto, sozinho, com um volume de Machado de Assis entre as mãos: Dom Casmurro. Tive que lê-lo, ainda que entre cochiladas. Li também Autran Dourado, Sinos da Agonia, e pôe agonia nisso, seu Autran. E teve aquele sujeito que eu lia sem entender palavra, o Camões, com aquelas poesias cheias de português, o português mesmo, enfadonho. E sempre me pareceu que prazer e inteligência não pudessem vir juntos; ou você lia, sofria e agonizava com as obras-primas, acumulando assim o bônus particular da sabedoria universal; ou você se entregava prazeirosamente aos tomos da Coleção Vagalume, como O Escaravelho do Diabo, recebendo por isso o carimbo de superficial, de raso, digamos mesmo de burro ou até de incapaz. Nesses dias de frio e de pouca vontade de conversar, percebo a grande tolice desse tipo de postura intelectual que põe o orgulho à frente do prazer, o "dizer bonito" antes do bom e do gostoso, do tesão. Coisa de pavão em zoológico... Menos amputação téorica tipo high level, menos esterilização cultural, menos hipocrisia. Que a gente quer gozar com a próprias mãos, ora.
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