Por Leozito Coelho

26 de agosto de 2005

O saco de linha

Andava cabisbaixo, quando, de repente, um saco cai na minha cabeça. Assim, tum! Simplesmente. O instinto foi o de procurar um culpado, mas não havia prédios por ali, nem janelas, apenas um mato desolado pelo abandono. Também não vi pedestres, nem carro passando no momento. Avenida solitária, pensei. Resolvi então abrir o saco de linha, uns vinte quilos. Um calafrio subiu-desceu quando avistei as milhares de cédulas verdejantes lá dentro. O sopro fugiu da boca, caçapa meu irmão! Frio na barriga, diarréia emocional, o diabo. Meti o saco na mochila, retomando a caminhada. A cada metro, sentia-o mais pesado nas costas. Um pensamento se intrometeu: e se as notas fossem falsas? Ou mesmo roubadas? Uma sirene distante me atolou no desespero, impulsionando a correria sem porquê. Parei na esquina, sem saber qual caminho tomar. Um puxão no braço. Me dá um troco, moço? Tenho não, respondi seguindo em frente. Eu suava miséria! A avenida estava agora lotada. O calor ebulia a paisagem. As pessoas esbarravam, minhas pernas já tremiam, as vistas vacilavam. Eu carregava uma elefoa... grávida. No meio da multidão, alguém tentou arrancar a mochila. Rasguei um soco no ar, corri desorientado até uma garagem, abri o carro e deitei no banco traseiro. Acabei dormindo. Minutos depois, tudo estava mais calmo. Havia silêncio. Abri o saco, enfiei dois maços na calça. Larguei o resto no porta-luvas. No boteco, pedi um copo de leite e uma porção de moela. Tirei a nota de cinqüenta, nova, limpa, passada à mão, e disse pode ficar com o troco, rapaz. Ele abriu um sorriso, deixou os guardanapos na mesa, e disse Deus te pague, meu velho...

Um comentário:

Anônimo disse...

Léo, deve ser restolho da mala do mensalão aí na França. Caro cê é muito sortudo.

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