Por Leozito Coelho

28 de julho de 2005

Protesto

Não havia muitas barreiras entre eu e ela. Apenas a multidão que se comprimia, a cerca de ferro de barras paralelas montada para nos conter, e o batalhão de seguranças de braços cruzados e de cara feia, feia mesmo. Ela pisava o tapete vermelho com delicadeza, como uma lady brasileira, se é que existe lady por essas bandas, provavelmente não, lady que é lady não dançava funk como ela. Eu a via nitidamente, entre cabeças anônimas, excitadas e vibrantes. Tinha de arriscar, o momento era este, o mais próximo. Puxei o ovo da pochete. Depois de uma mira de olho rápida e mesmo improvisada, arremessei-o contra ela: ZUM! Primeiro, um grito de dor. Passou a mão nos cabelos, um urro de desespero e ódio. Ouvi este último já ganhando a avenida. Alguns corriam atrás de mim, pega! pega! malfeitor! desgraçado! vagabundo! Escapei fácil, sou jovem, fôlego de sobra. Eu precisava protestar, alguém tinha de tomar uma atitude. Eu estava cansado de tanta babaquice, entende? Sério: você realmente me entende?

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