Por Leozito Coelho

22 de dezembro de 2004

O fim do túnel

Ele me viu organizando os engradados da forma como eu não aprendera. Passou por mim e nada disse. Terminei o serviço, os braços tesos e cansados, e ele veio e inspecionou o local e disse que estava uma porcaria, a disposição errada!, tem que ser isto ali e aquilo aqui!, e saiu em marcha e me deixou ali, entregue, para que refizesse o trabalho. E logo pensei no que ele me pagava, e nas coisas que me dizia, e na necessidade que eu tinha de continuar vivendo aquele inferno para fazer viver outros, e eu quis realmente chorar como menino, como Pedro todas as noites quando não tem o leite ou algo que lhe faça diminuir o urro do estômago, e finalmente comecei a rolar as primeiras gotas de autopiedade, no canto do salão, sozinho, sem que ninguém pudesse notar, atolado na miséria e na tristeza. Depois de minutos retomei o trabalho, descendo os engradados de refrigerante e alocando-os propriamente como ele tinha ordenado. E ele veio, analisou tudo, olhou nos meus olhos, virou-se e foi embora dizendo e a cozinha, limpou tudo?

Nenhum comentário:

Arquivo