Conheceu o esplendor no inverno rigoroso. Os mais velhos o admiravam, os mais novos o enfeitavam. Chapéu, nariz de arbusto, luvas, cachecol, gravata, cada dia era uma novidade. Ganhou logo um nome: Jean. Precisamente, Jean-Jacques. Intimamente, apenas Jiji. Ele recebia os cumprimentos dos que passavam rumo ao trabalho ou à escola ou ao supermercado ou à banca de jornais, e se não os respondia, não era por falta de educação, isso não!, mas pelo receio de algum desmoronamento na sua estrutura firme porém quebradiça. As crianças brincavam a seu redor, atirando bolas geladas umas contra as outras. Jiji ficava contente com aquela companhia animada, não arriscando o sorriso com medo do nariz cair ou a cara rachar. Mas os dias de glória escoavam... o frio cedendo espaço à força oposta. E Jiji começando a brilhar, e se fundindo em instâncias corporais disformes, e diminuindo de volume, e sumindo rapidamente, e fluindo pelo chão até a sarjeta e depois o esgoto, onde todos eles se encontravam num fluxo homogêneo e entediante.
Por Leozito Coelho
12 de dezembro de 2004
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