Por Leozito Coelho

20 de março de 2009

Paranoica

Impossível precisar as câmeras instaladas nas marquises de Rayon, ou as viaturas que patrulham a beira-mar, ou as guaritas construídas alternadamente nas esquinas, ou as rondas policiais com seus trajetos pré-fixados, ou os canhões restaurados a postos nos fortes, ou os rasantes dos helicópteros acima da trama urbana. Com tal aparato, Rayon é indubitavelmente a mais vigilante das cidades hodiernas, o que induz o incauto a inferir sobre a violência e a desordem que infernizam seus cidadãos e justificam os investimentos realizados até aqui. Mas não é bem assim. Basta que ele repare nos cães que nada farejam ou nas automáticas que não atiram ou nas sirenes que ninguém escuta ou nas imagens que revelam crime algum. Em Rayon, as ações mais consistentes se resumem aos voos solitários de folhas de jornal, que emprestam ruídos e movimentos e interrupções ao ramerrão aborrecido da cidade. Pois é fato: a metrópole que aplicou tudo em equipagem e sistemas de proteção e que empregou todos habitantes em cargos de milícia e observação é a mesma que padece tristemente por não ter a quem vigiar.

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Um comentário:

Keila Costa disse...

Adoro essas suas cidades...incongruentes com o tempo, com a lógica...de previsão e imprevisão...
beijos querido!

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