Por Leozito Coelho

2 de novembro de 2005

A arma

Ele apontava a arma contra a cabeça dela. Não me mate, por favor, ela dizia. Não, não, não atire! Leve tudo que quiser, mas por favor... O bandido estava inquieto. A pistola era nova; prateada, automática, mira laser. Tinha de testá-la, verificar-lhe o funcionamento. Ele pôs a senhora contra a parede da sala. Fica quietinha aí. Foi até a cozinha, apanhou uma laranja. Quando voltou, deu com a velha agachada, aos prantos, não me mate, por favor... Colocou-a de pé, deu-lhe um tapa no rosto, agora vê se cala essa boca! Pousou a laranja sobre os cabelos brancos e macios da senhora, como num espetáculo circense. Foi para o outro lado da sala, dizendo no caminho que se a laranja caísse, a velha seria morta antes mesmo de o fruto tocar o chão. Enfim, ele se posicionou de frente para ela; uns trinta metros os separavam. Ela dizia não, não, não... O bandido repetia sim, sim, sim..., num tom de voz firme e compenetrado, ao mesmo tempo em que posicionava o raio vermelho no centro da laranja. Ao som seco do disparo, seguiu-se o barulho escorregadio do corpo caindo. O bandido cruzou a sala. Tirou uma navalha do bolso e pôs-se a descascar a laranja intacta. A parede exibia uma pintura colorida, ainda quente. Trocaria de arma, pensou o bandido, enquanto saboreava o gosto ácido de uma guerra declarada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eh!! Nesse mundo de hj tudo parece normal!!! Culto a Gengis Khan!!!

Arquivo