Ela trouxe um livro de poesias para mim. Disse que era para expandir a mente, que eu parecia um caixote de papelão cheio de ar dentro. Você precisa pôr peso nesse vazio, sabe? Eu respondi que burro, é o que você quis dizer, não sou idiota, burro é a senhora sua mãe, e se você sente falta de algo mais pesado, faça o seguinte, segure bem firme aqui, do jeito que eu e você gostamos. Isso, assim. Então fomos para a cama. Ela acordou no meio da madrugada, doida de sono. Caminhou até a sala e me encontrou no sofá. O livro entre as mãos. Não estou entendendo porra nenhuma, eu disse secamente. Ela armou um escândalo, que eu era rude e estúpido, não quer ler?, então se fode ora!, imbecil de merda, e arremessou o livro pela janela. Trocou de roupa, bateu a porta e foi embora. Desci em seguida para resgatar o livro perdido lá no meio da rua, mas não o encontrei. Subi e fiquei vendo Corujão. Logo dormi.
Veio cedo, pelas oito. Me deu um beijo na boca, pediu desculpas, e disse que tinha comprado um caderno, um lápis e uma borracha para mim. Não sabia que você escrevia... Perguntei se ela tinha encontrado o livro e ela respondeu que sim, debaixo de um Mercedes velho. Tirou-o da bolsa e me entregou. Havia um papel A4 dobrado na página 32. Passei a limpo a poesia que você rabiscou na sobrecapa, contornando o título e o nome do autor. Obrigado, eu respondi, sem fazer a menor idéia do que aquelas linhas queriam dizer, para quem diziam e porquê diriam algo que pudesse mudar qualquer coisa.
Por Leozito Coelho
17 de outubro de 2005
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